A psicopedagogia tem
como alvo prevenir ou reverter possíveis dificuldades relacionadas a
aprendizagem. No trabalho psicopedagógico de intervenção são considerados
vários fatores em relação à instituição a ser atendida, desde a comunidade a
qual pertence, o histórico da própria instituição, as características
estruturais e de gestão, bem como os agentes envolvidos no processo do aprender
e do ensinar.
Nesta perspectiva de
visão psicopedagógica, que serve como referencial, é que este trabalho tem como
fundamento norteador das estratégias de intervenção a realidade da instituição
Escola Municipal Iolanda Raulino.
A escolha da
instituição acima referida seguiu-se de maneira criteriosa partindo das
observações descritas pelo manual de estágio supervisionado em psicopedagogia
institucional, onde dois pontos foram fundamentais como: não possuir vínculo
profissional com a escola e não ter qualquer parente próximo ou pessoas da
intimidade que façam parte do quadro de alunos, professores, funcionários e
gestores.
A partir de então, por
meio de observações, entrevistas e dados levantados foi possível compreender o
seu funcionamento, em termo de aspecto geral e do cotidiano escolar, desde a
convivência entre aluno x aluno, professores x professores, alunos x
professores, alunos x direção e direção x professores e demais funcionários é
que o olhar psicopedagógico. Tomando sentido sobre a realidade encontrada,
passa a planejar ações que visem melhorar e ampliar o trabalho da instituição
escolar.
Nesse sentido, este
trabalho tem como objetivo a amostragem da instituição no período noturno, na
modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos - EJA, com relação a situação
motivacional dos professores e dos alunos da Escola (PREFIRO NÃO DECLARAR),
com o propósito de elaborar ações que visem elevar a autoestima e o gosto pelos estudos, bem como o interesse
proativo dos educadores para dar mais qualidade ao ensino.
A
educação, num sentido mais amplo, não deixa dúvida da sua função social, sendo
um fator decisivo da hominização e, em especial, da humanização do homem. Os
grupos humanos, constituídos culturalmente como tal, elaboraram, ao longo do
tempo, instrumentos, artefatos, costumes, normas, códigos de comunicação e
convivência como mecanismos imprescindíveis para sua sobrevivência. Esses mecanismos
não se fixam biologicamente nem se transmitem através da herança genética. Os
grupos humanos põem em andamento processos externos de transmissão para
garantir a sobrevivência das novas gerações e de suas conquistas sociais. Esse
processo costuma ser genericamente denominado de educação.
A
educação não pode ser considerada como um processo linear, mecânico. Pelo
contrário, é um processo complexo e sutil, marcado por profundas contradições e
por processos coletivos, contínuos e permanentes de formação de cada indivíduo,
o que se dá na relação entre os indivíduos e entre estes e a natureza. A escola
é o local privilegiado dessa formação porque realiza um trabalho sistemático e planejado
com o conhecimento, com valores, com atitudes e com a formação de hábitos. Em
muitos momentos a atuação da escola foi associada à função de formar a classe
subalterna, o cidadão dócil e o operário competente, por priorizar a dimensão
técnica, ensinando álgebra, ciências e outros conteúdos, sem os quais a força
de trabalho não seria capaz, supostamente, de desempenhar de forma satisfatória
o seu papel na indústria moderna.
A
escola é uma instituição extremamente complexa. Sua função tradicional é a de
facilitar a inserção do indivíduo no mundo social. O indivíduo deve aprender as
formas de conduta social, os rituais e as técnicas para sobreviver. Ao longo do
tempo as funções da escola foram sendo ampliadas, passando a abranger outras,
tais como: cuidar das crianças enquanto os pais trabalham; socialização,
colocando as crianças em contato com outras e ensinando normas básicas de
conduta; aquisição de habilidades básicas como ler, escrever, expressar-se,
lidar com a aritmética, os conhecimentos científicos; orientação às crianças
nos ritos de passagem para a adolescência, visto que é uma fase bastante
difícil devido às mudanças biológicas e psicológicas que ocorrem no organismo.
Tratando-se de instituição Guirado, 1997, p.34, escreve:
Estamos definindo as instituições como
relações ou práticas sociais que tendem a se repetir e que, enquanto se repetem
legitimam-se. Existem, sempre, em nome de um ‘algo’ abstrato, o que chamamos de
seu objeto. Por exemplo, a medicina pode ser considerada, segundo nossa
definição, uma instituição e seu objeto, pode-se dizer, é a saúde. As
instituições fazem-se, sempre também, pela ação de seus agentes e de sua
clientela. De tal forma que não há vida social fora das instituições e sequer
há instituição fora do fazer de seus atores.
Sob
este olhar, o objeto da escola é a educação e o conhecimento. É esta
instituição que também promove ritos de iniciação de um nível escolar para
outro, que às vezes submetem os indivíduos “a provas que servem de seleção para
a vida social, que estabelecem discriminações entre elas, pois só as que
adquirem as competências estabelecidas pela sociedade serão aceitas”. (FREITAG,
1980, p. 32).
O cotidiano escolar também está marcado pela violência que
aparece na forma de segregação, exclusão e indiferença ao outro. No entanto,
esses acontecimentos não são produzidos apenas ao nível individual e nem tampouco
somente pelos alunos. Essas práticas são moldadas pelos valores, regras e
princípios sociais adotados pelos diferentes atores, adultos e jovens, que se
fazem presentes no contexto escolar. As diferenças são produzidas socialmente e
se vinculam às relações de poder que permitem incluir ou excluir pessoas, demarcar
fronteiras, diferenciar entre o nós e o eles. Segundo
Arroyo (1995, p. 36):
A educação moderna vai se configurando
nos confrontos sociais e políticos, ora como um dos instrumentos de conquista
da liberdade, da participação e da cidadania, ora como um dos mecanismos para
controlar e dosar os graus de liberdade, de civilização, de racionalidade e de
submissão suportáveis pelas novas relações sociais entre os homens.
Os valores sociais invadem a escola e não sendo discutidos educativamente
contribuem para a formação de preconceitos. É importante, assim, que analise-se
as práticas, valores e informações que são veiculadas no âmbito escolar
buscando o desvelamento e não o acobertamento das práticas de discriminação e de
intolerância que podem gerar violências entre os adolescentes e jovens no
contexto escolar e entre estes e os adultos.
Concordamos
com Miguel Arroyo quando, ao abordar a configuração da educação de jovens e
adultos e da juventude nesse cenário, afirma que:
(...) o que há de mais esperançoso na
configuração da EJA como campo específico de educação é o protagonismo da
juventude. Esse tempo da vida foi visto apenas como uma etapa preparatória para
a vida adulta. Um tempo provisório. Nas últimas décadas, vem se revelando como
um tempo humano, social, cultural, identitário que se faz presente nos diversos
espaços da sociedade, nos movimentos sociais, na mídia, no cinema, nas artes,
na cultura... Um tempo que traz suas marcas de socialização e sociabilidade, de
formação e de intervenção. A juventude e a vida adulta como um tempo de direitos
humanos, mas também de sua negação (ARROYO, 2005, p. 21).
A
juventude parece conviver com um movimento de ampliação do distanciamento existente
entre seus reais interesses e perspectivas e as questões da escola. Se
considerarmos a trajetória da instituição escolar, podemos perceber que a
escola não se acostumou a interagir com os movimentos da sociedade. Parece
caminhar num outro ritmo. A escola, em geral, ainda se fecha em si mesma
criando, por conseguinte, um distanciamento cada vez maior de, ao menos, uma
parte de seus atores.
Em geral, violência é conceituada como um ato de brutalidade,
física e/ ou psíquica contra alguém e caracteriza relações interpessoais
descritas como de opressão, intimidação, medo e terror. A violência pode se
manifestar por signos ou por símbolos, preconceitos, metáforas, desenhos, isto
é, por qualquer coisa que possa ser interpretada como aviso de ameaça, o que
ficou conhecido como violência simbólica.
Hoje infelizmente, a violência faz parte do cotidiano do jovem.
Muitos deles destacam que ela está se tornando cada vez mais freqüente no seu
dia-a-dia e que, muitas vezes, nem se reconhece mais, pequenos atos como
violentos. A violência que esses pequenos atos passam a serem considerados normais,
devido à sua freqüência, acaba-se banalizando a violência, o que contribui para
atitudes de agressão e de desrespeito ao outro, seja por parte do aluno, seja
por parte do professor.
No cotidiano escolar as pequenas violências ou as pequenas
agressões do cotidiano se repetem sem parar como a falta de polidez, a
transgressão aos códigos de boas maneiras ou a ordem estabelecida o que difere
da violência das condutas criminosas ou delinqüentes.
No âmbito escolar a violência é atribuída a fatores relacionados
à ordem social mais ampla que, no entanto, repercutem na escola, como a
exclusão social, a deslegitimação da política e das instituições sociais, as ideologias
autoritárias e as dificuldades de definição e percepção do futuro e a
identidade social. A violência no contexto escolar também pode ser desencadeada
pelos estereótipos dos adultos em relação ao jovem e ao adolescente (SALLES,
1998) e pelos preconceitos, discriminações e estigmas que, embora sejam de
origem social, adentram o espaço escolar (SALLES e SILVA, 2008, CAMACHO, 2001)
Somam-se a esses fatores outros mais diretamente vinculados à
escola, como a perda da crença na legitimidade da escola e a deslegitimação dos
diplomas, a percepção de que é difícil atingir
os objetivos preconizados pela escola como status e ascensão social (BOURDIEU,
1999), a exclusão na convivência escolar.
A
indisciplina em sala de aula é, hoje, um fenômeno que vem sendo discutido em nossa
sociedade de forma cotidiana, seja em meios acadêmicos, familiares ou pela
mídia.
Considerando
que a indisciplina ocupa lugar de destaque entre as maiores preocupações pedagógicas,
nos sentimos impulsionados a compreender este fenômeno a partir da análise de
noções trabalhadas em diferentes autores.
Para
Freire (1997) em pedagogia da autonomia diz que, um projeto de escola que
busque a formação da cidadania precisa ter como objetivos: tratar todos os
indivíduos com dignidade, com respeito à divergência, valorizando o que cada um
tem de bom; fazer com que a escola se torne mais atualizada para que os alunos
gostem dela; e, ainda, garantir espaço para a construção de conhecimentos
científicos significativos, que contribuam para uma
análise crítica da realidade.
A
indisciplina escolar não envolve somente características encontradas fora da escola
como problemas sociais, sobrevivência precária e baixa qualidade de vida, além
de conflitos nas relações familiares, mas aspectos envolvidos e desenvolvidos
na escola como a relação professor-aluno; a possibilidade do cotidiano escolar
ser permeado por um currículo oculto; entre outros.
Portanto,
a indisciplina escolar pode ser atribuída a fatores externos à escola e/ou a
fatores que envolvem a conduta do professor, sua prática pedagógica e até
mesmo, práticas da própria escola que podem ser excludentes. Araújo (2002, p.
232) orienta o caminho a seguir:
Enfrentar as indisciplinas da vida exige
dos profissionais da educação uma nova postura, democrática e dialógica, que
entenda os alunos não mais como sujeitos subservientes ou como adversários que
devem ser vencidos e dominados. O caminho é reconhecer os alunos como possíveis
parceiros de uma caminhada política e humana que almeja a construção de uma
sociedade mais justa, solidária e feliz. Para isso, as relações na escola devem
ser de respeito mútuo, a diversidade de interesses pessoais e coletivos deve
ser valorizada, e a escola deve buscar construir uma realidade que atenda aos
interesses da sociedade e de cada um de seus membros.
Dessa
forma, Araújo (2002) discute que a escola passa a receber sujeitos não homogêneos,
provindos de diferentes classes sociais, com diferentes histórias de vida e com
uma “bagagem” que, muitas vezes é negada pela escola.
A
perspectiva institucional aponta, portanto, alguns indicativos de que a indisciplina
está relacionada a problemas oriundos da e na própria instituição, embora não negue
a existência de que conflitos externos também intervenham na relação
interpessoal na escola.